7/31/2006

by Paul Mahder


Quem não nos conhecesse em quem mais pensaria, ao entrar pela porta que deixaste aberta

como quem convida, numa obscena oferta: entrem e venham ver!?

Mas entrei eu. É tarde para saber se era a mim que esperavas.

É tarde para saber seja o que for, até o que senti: repugnância ou dor?


Ah como eu queria deitar fora o odor que saía dos dois corpos suados!

Como eu gostava hoje de seguir-te o rasto cheio de estrelas

Mas não consigo vê-las de olhos consporcados.

E foste tu quem os cegou de vez para as coisas belas.


Hoje caminho pelos caminhos escuros sem quaisquer ilusões.

Desdenho do brilho do sol nos lençóis de água

E bebo o ácido vinho das tabernas, não para me embebedar

para esquecer apenas, o contorno irreal das tuas pernas.

7/29/2006

Fim?

by Tony

Caminhava sozinho a habituar-me. Queria costumes que não te envolvessem.

Fins são fins!

Não gosto de retornos. O recomeço é enquinado de passado.

Mas tu passas por mim e sigo-te sem querer ...

Que hábito o teu: deixar astros no rasto!

7/27/2006

Meu mar

at sfondideldesktop

Fui ao fundo de ti como quem busca pérolas
em grutas feitas conchas agrestes e crespadas

Fui ao fundo de ti e aprendi-me mais
do que consegui suportar ver de mim

Nada como um ventre de mulher
para nos contar a história deste Mundo

Subi, mas voltarei para ir ainda mais fundo
para tentar nadar no fundo do teu fundo.

Abre e deixa-me entrar, hoje sinto-me
muito mais mergulhador fecundo.

7/25/2006

Aurora

dale carter

aurora, nome de gente e sol rompente

aurora. amarelo a vencer a noite numa mancha suave
como me eram os teus dedos nos cabelos

foste tão quase quase minha, meu amor.
mas ser minha era muito exigente

era uma punhalada dos sentidos
nos nossos corpos, até roçar a dor.

temeste a intensidade ou fui eu que a temi?

nunca há uma verdade, apenas uma.
o certo e o tudo errado é que fugi.

7/24/2006

Espera

marko mueller

esperaste tempo a mais. a espera dói, eu sei. mas não me julgues mal

aprendi tarde.


só depois de perder-te e ficar horas que me parecem anos,

arranhando-te os vidros da janela

gato vadio que sou e que fui sempre.


é inverno cá fora, dentro a mim

abre escuta! nada do que possas fazer me fará pior

do que este ignorares a própria dor

fingindo que não queres abrir-me a porta.

egor dawn mercedes

7/23/2006

nasci no Inverno

Daniel Clark Orey

aprendi a andar já com flores nos caminhos

mas há tanto caminho por andar e eu quero morrer no Outono.

com cores mansas a aplanar-me a velhice dos passos


tanto me faz dormir em vãos de escada como em casa de
amigos

eu só deito o corpo, nunca durmo

e sou maníaco, trágico, taciturno

e ainda por cima sei isso tudo e não me importo nada!

pior és tu, que voltas sempre que fecho os olhos

abrir dentro dos meus os teus, na calada forma de estar

que és dentro de mim. e eu beijo esse olhar que amei e sei.

que é que me importa a morte? quero é essa cor de olhos na calçada

e também quero morrer de madrugada.


Fallengelna


7/20/2006

razões: duas, ou três?

at alaynarocks
não querias ser a outra eu entendi que fiz eu mais na vida que entender-te?

na outra história paralela a ti era ainda mais difícil encontrar-me...


cansei! disseste tu. e eu calei. que valia dizer-te que me partias a vida em cacos vários?


tu e ela esqueciam-se de mim - dividiam horários.

Brokentile Art

já atirado ao chão, por ele caminhei

arrastando os pés no empedrado.

constou-me depois que ambas choraram

cada uma em seu canto e certamente, por um homem diferente do que sou.

eu nutro uma profunda gratidão pelas duas:

hoje são meus os campos e as noites caladas, as ruas e as luas.


São lágrimas, Senhor.

jennifer esperanza

é preciso partir para que nos chorem.

eu precisei partir para viver.

tu fizeste magias negras brancas

choraste e ofereceste lágrimas para eu beber.

não fiquei, não podia, meu amor!


não conheces o monstro que hoje sou, todo feito de dor.

não posso amar. não sei não quero mesmo.


fui adorado tive paixões a resmo

no fim sobrou vazio e um travo a vinho azedo.

amores são sentimentos sãos, para gente sã

eu já enlouqueci de amor há tempo a mais

posso chamar-te amiga ou minha irmã

posso chamar-te flor ou pedra de calçada

lágrima de romã e chuva abençoada

mas tive de partir e ficaste para trás.


nem sonhas o conforto que me dás na caminhada!

ah, mas livre como vou agora ao sol e ao vento

não atires ao eco o teu lamento.



o meu caminho não tem princípio ou fim

tem de ter paz.


7/19/2006

manhã

Jevgenia

banho tomado acaricias a chávena de café e não a mim

entendo. eu não vim para ficar. não faço parte

dessa rotina suave que te emoldura a dourado, na manhã.


o livro amarelou mas não te importas. um livro não tem tempo.

pena pouco ter escutado do que disseste à noite!

tarde para lamentar. parei na tua casa conhecida

afinal até eu tenho de dormir em algum lugar...


na entrega sem esforço reabriste uma ferida

minha. tu lês tão indiferente que me sinto já longe

mandaste-me de novo para o passado

razão tens tu. sou vagabundo e tu inteligente

que pegue na mochila e toca a andar.


estou de partida e nem sequer me olhas

faço ruídos vários, bato portas. tu lês, tu nem te importas...

saio. o sol arde nos olhos mas sou livre.

pardal esvoaçante sem um rumo certo.


que terá ela dito? soava a interessante

mas era outra a fome que eu trazia...



e sigo, assobiando, no anúncio do dia.

7/18/2006

o gato-eu

David Waker

O gato é meu irmão. Ama e odeia tal como os de parentesco. Invade territórios, tudo é seu.

Sei sempre que o meu gato não é meu. Não me deixa esquecer, na sua liberdade natural, dá um salto e muda rapidamente de forma de estar e ser.
Assim deveria eu proceder, parece querer lembrar-me.

Olhar atento e frio. Nada de especiais apegos, que aquilo que hoje é verdade, é a grande mentira de amanhã se se fala de afectos.

E no entanto, ninguém mais do que os gatos solta no espaço filhos netos e bisnetos.

Nenhuma problema em procriar. Morrem muito de fome ou maus tratos, quando aprisionados e se libertos, em baixo a automóveis indiferentes ao som do esmagamento ou entre dentes de cães, pela trela de gente.

Os gatos sabem isso e procriam! que a espécie tem de continuar.

Sorrio face à nossa preguiça, somos muitos para quê ter medo de acabar?

Acabaremos no meio de uma dessas bombas ainda por inventar(?). Morreremos às nossas próprias mãos.


Louis Steiner

Eu não. Eu tenho um gato a imitar: faço uma mala com alguns pertences (coisas de gentes que é que se há-de fazer?) e deixo a porta aberta . Ficam-me para trás filhos e outros parentes.

Que alinhe na guerra quem quiser. Que eu, faça ele chuva ou sol, vou no sentido oposto.

Hei-de morrer é claro mas, nunca por nunca ser, eu morrerei por gosto.


7/17/2006

para ti, flor em amarelo.

Mike Johnson

uma rosa para uma mulher

ao meu jeito ao meu gosto de ser

assim sem mais

sem nenhuma razão


que não seja o desejo de lha dar todos os dias

transformando este verão em primavera

amena para a sua pele e os seus cabelos

numa ternura comovente em mim

ou pela vontade só de vê-la assim.


pobres judeus

from CNN

pobres judeus ricos a quem os montruosos alemães
aplicaram o estigma de vítimas e assim continuarão em livros e jornais.

andem para trás na história, vejam mais.
são a única tribo do seu único deus
são vítimas do Egipto mas quem sobreviveu
levando todo o ouro e matando os varões?


os vizinhos ao lado que passem sede e fome
que lhes importa se nunca os importou
nos seus ghetos de cultos ricos nobres?
construídos agora de si para si mesmos
que eles são os eleitos de um deus odioso e vingador.

viva o petróleo e bush, o salvador!

cambada mal formada a olho por olho
feito sangue e rancor!
vão morrer longe, façam-me esse favor!

uma questão: quem provoca o terror?

predadores de nós

Jon Kohl

em amarelo a natureza é predadora

na mesma folha caçam presa e caçador

presa e presa, na pressa de viver


nós vivemos na pressa de matar

para sermos maiores e mais ricos

poderosos sobre povos pobres e menores

há comportamento mais irracional

que o do ser racional que se diz homem?


neste espaço a amarelo e preto

verei o meu e o alheio dia a dia


sem arte engenho ou qualquer fantasia.


assim, a duas cores todo ele feito.

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